domingo, 31 de julho de 2011

Aviso aos navegantes... de segunda viagem.

Como primeiro conselho que darei aqui será “seja discreto (a)”, já estou me contradizendo logo de início. É que de fato esse blog nunca teve tema definido e como não anda tendo assim tantos leitores resolvi abrir mão de uma das minhas mais básicas condições para falar de um assunto que julgo privado, embora muitas pessoas já tenham conhecimento sobre ele.
Aos dezessete anos tive uma chamada crise de depressão maior. Depois desse episódio, outros três vieram e cá estou, vivendo, quiçá, o pior de todos eles.
Com isso tenho tido muito tempo para pensar. Talvez tenha roubado esse tempo de mim mesma, das “coisas que importam”, não sei. Só sei que penso o tempo todo e sobre quase tudo.
Essa é uma das vantagens de não ser estreante no fundo do poço. Quando por aqui nos vemos pela primeira vez, geralmente por questão de sobrevivência, nos vemos como centro do mundo. Nossas descobertas, nossas dores e nosso descompasso diante do mundo nos parece único. Somos únicos, isolados, sozinhos. Chega a dar pena.
É aí que escrevemos, relatamos, dividimos com quem que esteja mais próximo, a nossa genuína e peculiar dor. E depois de meses de terapias, mandingas, florais ou o que quer que seja nos sentimos enfim curados. Mais do que isso, nos sentimos vitoriosos e agradecidos pela oportunidade de passar por tamanha provação por entrar em contato com nosso eu mais profundo. Diante de tamanha dádiva, nos colocamos novamente a escrever, a relatar, na certeza de que outros enfermos se acalantarão com nosso triunfo sobre a dor.
Tudo o que acabo de escrever vivenciei na minha primeira crise e sim, ao sair da crise, me julgava sortuda por ter podido enfrentar a dor e dela ter saído para uma vida melhor. Coloquei-me a aconselhar, como se aquilo fosse um dever: “Vá e conta o que vistes”.
O que ninguém sabe nesse momento é que o poço continua ao lado, não importa o quanto andemos. Estudos recentes demonstram que todos aqueles que apresentam um episódio de depressão têm 50% de recaída durante a vida. Para quem já teve dois ou mais episódios, a taxa varia entre 80 e 90%, o que pode levar a depressão crônica, ou seja, que não pode ser curada.[1]
Quando a recaída acontece, além da frustração de estar de volta ao fundo do poço, percebemos que a doença não foi um presente dos deuses, nem uma oportunidade de reencontro com si mesmo. Percebemos também que a família, os amigos, namorados e afins já não encaram as crises de ansiedade, a tristeza e a choro constante com tanta paciência assim.
Então percebemos que não é possível ser um depressivo full time. Sair contando a torto e a direito que se tem uma doença psíquica não demonstrável em exames de sangue ou tomografias computadorizadas começa a parecer uma idéia não tão boa. Contar que se toma remédio controlado (se for tarja preta, então!!) se revela uma furada e tanto. Você começa a perceber que todo mundo tem um palpite, um remédio caseiro, um curandeiro ou religião a te indicar e tudo isso acompanhado de uma frase do tipo “tão novinha (o), tão bonitinha(o) e já com essas doenças?! Você precisa mesmo é sair mais, namorar, etc.
E já que não dá para chorar na fila do banco, no cabeleireiro, muito menos na frente dos colegas de trabalho, você acaba desenvolvendo máscaras. Sim, você chora e sofre (entre outras coisitas mais com dores no corpo, insônia, angustia, já que nem só de tristeza vive um depressivo e tristeza pura não é sinônimo de depressão). Mas você aprende que somente seu travesseiro te ouve sem preconceitos. O namorado tem paciência para, no máximo, uma crise por mês. Os pais já tem coisas demais para pensar e cuidar de filhos com quase trinta anos está fora de cogitação. Amigos, quando se tem, é melhor preservar antes que fujam.
O jeito é encarar que a depressão é uma doença extremamente estigmatizada e confundida com mau humor, preguiça, falta de força de vontade. Só nos resta encarar a doença como um problema íntimo e absolutamente solitário. A terapia e os remédios (que todo mundo abomina, por ignorância) são a única forma de lidar com o mínimo dignidade diante de algo que a maioria das pessoas encara como problema de gente fraca.
Desculpem pelo post nada animador, mas acreditem, estou por aqui há bastante tempo. e posso dizer por experiência própria que, como quase tudo na vida, a depressão se vence sozinho.


[1] Fonte: http://www.neurociencias.org.br/pt/544/depressao-2/, consultado em 15 de julho de 2011.

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